É difícil relacionar o Brasil ao Symphonic Metal, não é? Fãs do estilo temos aos montes. Prova disso é quando as maiores bandas do gênero (como Nightwish, Epica, Within Temptation)
passam por aqui e arrastam multidões até ao hotel. No entanto, bandas
brasileiras que apostam integralmente nessa sonoridade chegam com
dificuldade ao conhecimento do grande público. Uma vez que o Metal é
gigante e a nossa cena também, é claro que sempre há bandas fazendo de
tudo. Portanto, o estilo pode não ser consolidado aqui, mas isso não
significa que ele não exista.
Na cidade do Rio de Janeiro existe um excelente expoente que
tenta provar seu valor e movimentar os gostos da cena para esse tipo de
sonoridade clássica e orquestrada. Batizada com um antigo nome em latim,
o Iluminato (em oposição sátira ao nome Illuminati) surgiu em 2009 por iniciativa do guitarrista e vocalista gutural Pablo Ferreira,
que visava uma banda capaz de unificar gêneros sublimes como Gothic e
Symphonic Metal a outros de agressão como Doom e Death Metal.
Inicialmente não foi estabelecida uma formação definida além do próprio
Pablo, uma vez que ele só pretendia oficializar os postos quando o
primeiro álbum fosse lançado, demonstrando que a banda funcionava.
Alterações na formação aconteciam com alguma frequência, principalmente
no baixo e no vocal. Vocalistas de diferentes técnicas tiveram passagem
pelo projeto, inclusive gravando demos, mas, por motivos diversos, não
se situavam. Já no âmbito da bateria, havia certa estabilidade a partir
de 2010 com Léo Peccatu (ex-Hydria e Krystal Tears), que estava sempre à disposição tanto em estúdio quanto ao vivo. Por volta dessa época, o Iluminato chegou até mesmo a abrir um show doSirenia no Rio de Janeiro.
Em 2011 a estabilidade vocal foi alcançada com a chegada de Liz Demier, que se encaixava perfeitamente nas ambições de Pablo. Com ela, lançaram via MS Metal Records, no fim daquele ano, o debut "Reflections of Humanity".
Em vista da limitação de recursos para uma gravação de alta qualidade, a
ideia era lançá-lo como um EP, mas acabou sendo decidido que seria
mesmo o primeiro álbum da banda. Gravado no estúdio pessoal de Pablo no
Rio de Janeiro e distribuído pela Voice Music, o trabalho se
mostra mais voltado para a beleza do que para a agressividade. Por mais
que momentos de clímax transcorram nas canções - com o Death Metal
falando alto por meio de uma bateria mais pegada e vocais guturais que
alternam entre o rasgado e o fechado -, a sonoridade não chega a ser
bombástica, mas é efetivamente imersiva. Com os teclados e orquestrações
por conta do próprio Pablo, a atmosfera clássica irrompe e provoca
deleite, reforçado pelo belíssimo e técnico vocal de Liz, que oscila do
lírico ao "suspirado" de acordo com o momento. Embora não seja um
trabalho conceitual, trechos narrados retirados do filme "Network"
surgem no decorrer da audição, já que a ideia é traçar um paralelo entre
o filme e o álbum, como se ele estivesse acontecendo enquanto você
ouve. Apesar disso, o conteúdo lírico das canções é independente do
filme. A obra é um exímio Symphonic Metal de qualidade que realça os
potenciais criativos e composicionais de Pablo, que assina todas as
composições. Mesmo gravado de forma independente e com limitações de
recurso, a produção geral é boa e todos os instrumentos são ouvidos com
clareza. Só a guitarra que parece levemente abafada e poderia ser um
pouco mais pesada, e a bateria, seca e claramente sampleada.
A essa altura, portando, Liz Demier estava efetivada. Apenas em 2013 as funções de baixista e baterista foram preenchidas com Bruno Araújo e
a oficialização de Léo Peccatu, mas este último durou apenas naquele
ano. Até hoje, por enquanto, a posição não foi preenchida.
Para o futuro, o Iluminato está preparando um novo álbum de
estúdio que promete grandes evoluções em todos os aspectos em comparação
com "Reflections of Humanity". Algo realmente bombástico. A expectativa
é de lançamento ainda em 2015. As gravações foram realizadas nos
Estados Unidos, enquanto a produção ocorreu na Holanda. Para executar as
complexidades da linha de bateria, buscaram um cara acostumado com
violência. Por isso a gravação do instrumento ficou a cargo de Kevin Talley (ex-Six Feet Under e Dying Fetus). Resta esperar por esse promissor trabalho!
É difícil encontrar bandas nacionais do ramo. É difícil para elas,
também, ganhar projeção no cenário do país. Mas elas existem e são
competentes. O Iluminato é um dos nomes mais promissores
atualmente e, só pelo trabalho feito no primeiro álbum, já nota-se a
pré-disposição a amadurecer e lapidar ainda mais a sonoridade e trazer
álbuns ainda mais impressionantes no futuro. Banda pra ficar de olho!
Reflections of Humanity (2011)
01 - Helm of Blindness
02 - Hypocrisy
03 - Betrayed Soul
04 - Howard Beale
05 - Imperial Heart
06 - Aurea
07 - Diana Christensen
08 - Hell
09 - The Last Road
10 - My Astral Home